A rotina de animais (e tutores) em um abrigo no Rio Grande do Sul
A Unisinos, em São Leopoldo, abriga cerca de 90 cachorros e outros animais. A veterinária Raquel von Hohendorff fala dos cuidados e dificuldades do dia-a-dia.
Desde o dia 4 de maio, a Universidade do Vale dos Sinos (Unisinos) está recebendo pessoas desabrigadas pelas enchentes ocorridas no Rio Grande do Sul. Nos três ginásios da universidade, cerca de mil pessoas vivem provisoriamente porque não podem voltar para suas casas.
Além de pessoas, a Unisinos também está abrigando animais, integrantes das famílias acolhidas no campus. Segundo a veterinária Raquel von Hohendorff, professora de direito da universidade e veterinária no Parque Zoológico de Sapucaia do Sul, há cerca de 90 cachorros, alguns gatos, coelhos, passarinhos e até porquinhos-da-índia.
Ela falou com a LambeLambe por telefone, direto de São Leopoldo, depois de um longo dia de trabalho.
A veterinária e advogada é uma das pessoas responsáveis por cuidar dos animais abrigados na Unisinos, em São Leopoldo. Segundo ela, todos os animais que estão ali vieram com seus tutores. “Dentro do possível, está tudo tranquilo. Tem lugares muito piores.” “Não falta comida nem material de limpeza. Todo mundo ganhou vermífugo, antipulgas e anticarrapatos.”
“Tem muito manejo humano. As pessoas estão há semanas sem ir para casa. Algumas estão voltando ao trabalho. É muita gente, é um manejo de cidade.”
“A universidade não estava preparada para receber pessoas nem animais", ela conta. A primeira pessoa a chegar com animais, conta Raquel, foi uma senhora que levava sua gata numa caixa de transporte. Segundo a veterinária, ela a abraçou, chorando, contando que havia sido obrigada a deixar seus seis cachorros para trás.
“Temos muitos voluntários, mas muitos vão lá só para olhar, passear, achar bonitos os cachorrinhos. Tem uma galera que não ajuda a limpar o cocô, essas coisas.”
Ala pet
Foi necessário criar uma “ala pet” para que fosse possível conciliar o cuidado às pessoas com o cuidado aos animais. Alguns poucos animais ficam no abrigo com seus tutores. “Tem muito bicho bravo, que não posso deixar junto. Esses, eu deixo com os tutores.”
Ela conta que se pede aos tutores que ajudem a cuidar dos animais, que levem para passear, que deem comida, limpem a sujeira. “Tem tutor que não foi lá [na ala pet] nenhuma vez". Felizmente, há apenas um animal doente em todo o abrigo, um cachorro com suspeita de gastroenterite.
Já houve até parto de uma cachorra grávida, que deu à luz a oito filhotes. E há outra prestes a dar à luz. “Tem muito pitbull, muito cachorro bravo, que nunca viu outro cachorro. É muito complexo. Não é como as pessoas, que você põe uma ao lado da outra e pronto.”
O caso mais grave, ela conta, foi o de um pitbull que pertencia “a um integrante uma facção [criminosa] que foi removido do abrigo na primeira noite e não pôde levar o cachorro". Ninguém conseguia chegar perto do animal, Raquel conta. Foi necessário levar o cachorro para um canil municipal.
Com a arma anestésica do zoológico, Raquel anestesiou o cachorro e batedores da Polícia Militar levaram o animal ao canil porque era necessário chegar rápido ao canil; havia o risco de que ele acordasse no percurso.
“Ninguém vai ficar igual”
Raquel também foi atingida pela enchente. Ela está fora de casa desde 4/5. Tem ficado na casa de uma amiga. Ela se reveza entre o zoológico e a Unisinos todos os dias.
“É muito chocante pensar nas pessoas que não conseguiram resgatar os bichos. Eu saí de casa, mas meu marido não porque a gente tem um gato. Ele ficou cinco dias em casa ilhado, no apartamento, depois saiu de barco para pegar comida e voltou.” Eles decidiram não retirar Fubá, o gato, de casa para não estressá-lo. O marido de Raquel continua no apartamento para cuidar do gato.
“As pessoas estão muito mal", diz. “A preocupação é que, aos poucos, a vida está voltando ao normal. Muita gente não foi atingida e pôde voltar para aula, para trabalhar. Fica a pergunta de como será essa situação.”
Ao mesmo tempo, ela conta, uma parte da cidade vive como se nada estivesse acontecendo. “Numa área que não foi afetada, existem duas grandes pizzarias e elas continuam movimentadas".
Depois de tudo o que tem acontecido na Unisinos, em São Leopoldo e no Rio Grande do Sul, Raquel acredita que “ninguém vai ficar igual". “Não tem como não ficar chocado com o que vemos". A tragédia, explica ela, está trazendo à tona “diferentes nuances da vida humana".
Prof Raquel é um Exemplo de ser Humano e de profissional, uma das melhores professoras que o nosso Estado e que eu tenho a grande de Honra de chamar de professora. Que Deus ajude as pessoas que perderam tudo e que ajude nosso Estado a se reerguer mais forte do que nunca.